A saúde ocular desempenha um papel crucial na qualidade de vida das pessoas, e a farmacologia desempenha um papel vital na manutenção dessa saúde. Neste artigo, vamos abordar a importância da farmacologia, destacando os principais fármacos utilizados, a necessidade de um uso correto e a atenção aos efeitos colaterais que podem afetar não apenas os olhos, mas também a saúde geral.
A farmacologia ocular desempenha um papel crucial na preservação da saúde visual. A escolha adequada de medicamentos, o uso correto e a atenção aos efeitos colaterais são elementos essenciais para o sucesso do tratamento. A colaboração entre profissionais de saúde, a consciencialização dos pacientes e a busca por tratamentos personalizados são passos fundamentais para manter a visão em foco ao longo da vida.

Principais fármacos oculares e as suas funções
A farmacologia geral e ocular é uma área muito vasta. Em termos oculares abrange uma variedade de medicamentos destinados a tratar condições que afetam os olhos. Dentre esses, destacam-se os colírios para glaucoma, anti-inflamatórios, antibióticos e lubrificantes oculares, os dilatadores de pupila, ou midriáticos, e os de aplicação intravenosa para fins de contraste. Cada classe de medicamento desempenha um papel específico na manutenção da saúde ocular, desde a redução da pressão intraocular até o tratamento de infeções e inflamações, vamos então de seguida abordar especificamente cada classe de fármaco ocular
1. Colírios no tratamento do glaucoma: princípio ativo, posologia, mecanismo de ação e efeitos secundários
O glaucoma é uma condição ocular progressiva que afeta o nervo óptico, muitas vezes relacionada ao aumento da pressão intraocular. O tratamento do glaucoma frequentemente envolve o uso de colírios, que são formulados com diferentes princípios ativos para ajudar a controlar a pressão intraocular e preservar a saúde ocular. Podem conter diferentes princípios ativos, sendo alguns dos mais comuns:
Prostaglandinas: Latanoprosta, bimatoprosta e travoprosta são exemplos de colírios que pertencem a esta classe. Estes medicamentos ajudam a aumentar a drenagem do humor aquoso, reduzindo assim a pressão intraocular.
Betabloqueadores: Colírios que contêm timolol, levobunolol ou betaxolol são betabloqueadores que diminuem a produção de humor aquoso, reduzindo a pressão intraocular.
Análogos de anidrase carbónica: Dorzolamida e brinzolamida são exemplos de colírios que pertencem a esta classe, inibindo a produção de humor aquoso e, consequentemente, diminuindo a pressão intraocular.
A posologia dos colírios para o tratamento do glaucoma varia de acordo com o princípio ativo utilizado e a recomendação do profissional de saúde. Geralmente, os colírios são administrados uma vez ao dia, de preferência à noite, para otimizar a eficácia e minimizar os efeitos colaterais. É crucial seguir as instruções do médico para garantir a eficácia do tratamento.
O mecanismo de ação dos colírios para glaucoma varia conforme o princípio ativo. Prostaglandinas aumentam a drenagem do humor aquoso, betabloqueadores reduzem a produção deste fluido e análogos de anidrase carbónica inibem a enzima responsável pela produção do humor aquoso. O objetivo principal é regular o equilíbrio entre produção e drenagem, mantendo assim, a pressão intraocular dentro de níveis saudáveis.
Efeitos Secundários:
Embora esses colírios sejam eficazes no tratamento do glaucoma, podem apresentar alguns efeitos colaterais. Entre os mais comuns estão:
- Irritação ocular: Vermelhidão, comichão e sensação de ardor podem ocorrer temporariamente após a aplicação.
- Alterações na cor dos olhos e pálpebras: Alguns colírios, especialmente os que contêm prostaglandinas, podem causar alterações na coloração da íris e no crescimento dos cílios.
- Secura ocular: A diminuição da produção de lágrimas pode levar a uma sensação de olhos secos.
- Alergias: Algumas pessoas podem ser alérgicas a certos componentes dos colírios, manifestando sintomas como inchaço, vermelhidão e comichão.
- Problemas respiratórios (Betabloqueadores): Colírios que contêm betabloqueadores podem, em alguns casos, afetar a função pulmonar, causando dificuldades respiratórias.
2. Anti-Inflamatórios oculares: princípio ativo, posologia, mecanismo de ação e efeitos secundários
Os anti-inflamatórios oculares são frequentemente prescritos para tratar condições oculares inflamatórias, como conjuntivite, uveíte e também outras inflamações associadas a cirurgias oculares. Esses medicamentos ajudam a aliviar a inflamação, reduzir o desconforto e promover a cicatrização. Diversos princípios ativos podem ser encontrados em anti-inflamatórios, sendo alguns dos mais comuns:
Corticosteroides: Dexametasona, prednisolona e fluorometolona são exemplos de corticosteroides que têm potente ação anti-inflamatória.
Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs): Ketorolaco, diclofenaco e bromfenac são AINEs utilizados para reduzir a inflamação e aliviar a dor.
Inibidores da calcineurina: Tacrolimo e ciclosporina são exemplos de medicamentos que atuam nibiçao da calcineurina, diminuindo a resposta inflamatória.
A posologia dos anti-inflamatórios oculares varia com base no princípio ativo e na condição específica do paciente. Geralmente, a frequência de aplicação pode variar de uma a várias vezes ao dia, conforme a gravidade da inflamação. O profissional de saúde determinará a posologia mais adequada para cada caso.
O mecanismo de ação dos anti-inflamatórios varia conforme o princípio ativo envolvido:
Corticosteroides: Inibem a libertação de substâncias inflamatórias, reduzem a permeabilidade vascular e com isso diminuem a resposta imunológica no local da inflamação.
Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs): Inibem a enzima ciclooxigenase, reduzindo a produção de prostaglandinas, que são mediadores inflamatórios.
Inibidores da calcineurina: Modulam a resposta imunológica, impedem assim a ativação de células T e, consequentemente, reduzem a inflamação.
Efeitos Secundários:
O uso prolongado de anti-inflamatórios oculares pode estar associado a alguns efeitos colaterais, embora nem todos os pacientes os experimentem. Alguns dos efeitos secundários possíveis incluem:
- Aumento da pressão intraocular: Especialmente associado ao uso prolongado de corticosteroides, pode ser um risco, principalmente em pacientes predispostos a glaucoma.
- Irritação ocular: Vermelhidão, comichão e sensação de queimadura podem ocorrer após a aplicação, especialmente nos primeiros dias de uso.
- Catarata: O uso prolongado de corticosteroides pode aumentar o risco de desenvolvimento de cataratas.
- Alergias locais: Algumas pessoas podem desenvolver reações alérgicas aos componentes dos colírios anti-inflamatórios, podem desenvolver inchaço, vermelhidão ou comichão.
- Visão turva: Pode ocorrer temporariamente, especialmente após a aplicação de colírios e pomadas contendo corticosteroides.
3. Antibióticos Oculares: Princípio Ativo, Posologia, Mecanismo de Ação e Efeitos Secundários
Os antibióticos oculares são prescritos para tratar infecções oculares bacterianas, como conjuntivite bacteriana ou úlceras na córnea. Esses medicamentos ajudam a combater a proliferação de bactérias, aliviar os sintomas e acelerar a recuperação.
Diferentes antibióticos podem ser utilizados em colírios e pomadas oftálmicas, sendo alguns dos mais comuns:
Cloranfenicol: Um antibiótico de amplo espectro eficaz contra várias estirpes bacterianas.
Tobramicina: Pertencente à classe dos aminoglicosídeos, eficaz contra muitas bactérias gram-negativas.
Ofloxacino: Um quinolona de amplo espectro utilizado para tratar diversas infecções bacterianas.
Azitromicina: Pode ser usado em colírios para tratar infecções oculares, especialmente contra bactérias gram-positivas.
A posologia dos antibióticos varia de acordo com o princípio ativo e a gravidade da infecção. Em geral, a aplicação pode ser recomendada de duas a várias vezes ao dia. Dessa forma, a duração do tratamento também será determinada pelo prescritor, geralmente estendendo-se por alguns dias até que a infecção seja completamente erradicada.
O mecanismo de ação dos antibióticos varia conforme o princípio ativo:
Cloranfenicol: Inibe a síntese de proteínas bacterianas, impede o crescimento e a multiplicação das bactérias.
Tobramicina: Age por interferência na síntese de proteínas bacterianas, leva à morte das bactérias.
Ofloxacino: Inibe a enzima DNA girase nas bactérias, interrompe a replicação do DNA e causa a morte bacteriana.
Azitromicina: Atua por inibição da síntese de proteínas nas bactérias, com isso impede o seu crescimento.
Efeitos Secundários:
O uso de antibióticos oculares é geralmente seguro, mas alguns efeitos colaterais podem ocorrer:
- Irritação ocular: Pode ocorrer vermelhidão, comichão e sensação de ardor temporária após a aplicação.
- Reações alérgicas locais: Algumas pessoas podem ser sensíveis aos componentes do colírio, podem desenvolver inchaço ou vermelhidão.
- Visão turva temporária: Pode ocorrer imediatamente após a aplicação, mas geralmente é transitória.
- Desenvolvimento de resistência bacteriana: O uso inadequado ou excessivo de antibióticos pode contribuir para o desenvolvimento de resistência bacteriana.
4. Lubrificantes oculares: princípio ativo, posologia, mecanismo de ação e efeitos secundários
Os colírios lubrificantes oculares são frequentemente utilizados para aliviar a secura, irritação e desconforto nos olhos. Proporcionam um filme lacrimal artificial para melhorar a hidratação da superfície ocular e são frequentemente recomendados para pessoas com olhos secos ou em situações que podem causar irritação, como exposição ao vento, uso de lentes de contacto, poluição ou uso prolongado de dispositivos digitais.
Os colírios lubrificantes oculares podem ter diferentes formulações, e muitos não contêm princípios ativos em termos farmacológicos. Alguns ingredientes comuns incluem:
Ácido hialurônico: Uma substância natural que retém água, proporcionando hidratação à superfície ocular.
Carboximetilcelulose (CMC): Agente espessante que ajuda a estabilizar e prolongar a ação do filme lacrimal.
Glicerina ou polietilenoglicol: Substâncias humectantes que ajudam a manter a humidade na superfície ocular.
Hidroxipropilmetilcelulose (HPMC): Agente viscoso que contribui para a consistência do colírio.
A posologia dos lubrificantes varia conforme a necessidade do paciente. Eles podem ser aplicados conforme necessário ao longo do dia, especialmente em situações de desconforto ocular. Em alguns casos, recomendase-se o uso regular para manter os olhos adequadamente hidratados.
Os colírios lubrificantes, portanto, atuam criando uma película protetora sobre a superfície ocular. Isso ajuda a manter a humidade, reduzir o atrito entre as pálpebras e a córnea, e proporcionar alívio temporário dos sintomas de secura ocular.
Efeitos Secundários:
Os lubrificantes geralmente são bem tolerados, mas alguns efeitos secundários podem ocorrer:
- Visão temporariamente desfocada: Podem causar visão turva imediatamente após a aplicação, mas isso geralmente é transitório.
- Irritação local: Alguns indivíduos podem ser sensíveis a certos componentes, resultando em irritação temporária ou vermelhidão.
- Reações alérgicas raras: Em casos raros, algumas pessoas podem desenvolver reações alérgicas aos ingredientes do colírio.
- Persistência dos Sintomas: Se os sintomas de olho seco persistirem, pode ser necessário investigar outras causas subjacentes e ajustar o tratamento.
5. Dilatadores de pupila: princípio ativo, posologia, mecanismo de ação e efeitos secundários
Os colírios dilatadores de pupila, também conhecidos como midriáticos, são utilizados em oftalmologia para dilatar a pupila. Assim, este efeito é frequentemente necessário em exames oculares, como a fundoscopia, ou em procedimentos cirúrgicos. Existem diferentes tipos de colírios dilatadores, com variações em princípios ativos e duração do efeito.
Tropicamida: É um agente anticolinérgico que age bloqueando os recetores muscarínicos na íris, e assim, causam a dilatação da pupila.
Fenilefrina: Este é um simpaticomimético que atua ao estimular os receptores alfa-adrenérgicos, promove assim a dilatação da pupila.
Ciclopentolato: Similar à tropicamida, é um agente anticolinérgico usado para dilatar a pupila.
A posologia dos colírios dilatadores de pupila pode variar dependendo do princípio ativo. Geralmente, uma ou duas gotas são aplicadas no olho afetado antes do exame ou procedimento, sendo a duração do efeito determinada pelo tipo de dilatador utilizado.
Tropicamida e ciclopentolato: Inibem a ação da acetilcolina, um neurotransmissor que contrai a pupila. Ao bloquear esses efeitos, a pupila dilata.
Fenilefrina: Estimula os receptores alfa-adrenérgicos, causando uma contração do músculo dilatador da pupila e, consequentemente, a dilatação da mesma.
Efeitos Secundários:
- Visão desfocada: É um efeito comum e temporário após a aplicação do colírio, principalmente devido à dilatação pupilar.
- Fotofobia: A sensibilidade à luz pode aumentar temporariamente.
- Aumento da pressão intraocular: Pode ocorrer em alguns pacientes, especialmente aqueles predispostos ao glaucoma.
- Irritação ocular: Alguns indivíduos podem experimentar vermelhidão, coceira ou sensação de queimação.
- Sequelas sistémicas (raro): Fenilefrina, em particular, pode ter efeitos sistémicos, como aumento da pressão arterial, especialmente em pacientes sensíveis.
É importante informar o profissional de saúde sobre quaisquer condições médicas preexistentes, como glaucoma, hipertensão arterial ou sensibilidade a medicamentos, para garantir o uso seguro dos colírios dilatadores. A utilização desses colírios é geralmente segura quando administrada sob supervisão médica, principalmente para fins diagnósticos ou procedimentos oftalmológicos.
Os efeitos colaterais de reações alérgicas severas que culminam em choques anafiláticos são extrema relevância quando falamos na população pediátrica, pois estes dilatadores são por vezes usados em meio hospitalar para facilitar a determinação do erro refrativo da criança. Contudo existem outras formas tão ou mais eficazes de determinar este erro refrativo, pelo que o risco associado a o uso destes dilatadores não justifica o seu uso nessa situação especifica.
6. Medicamentos de contraste intravenosos: princípio ativo, posologia, mecanismo de ação e efeitos secundários
Os meios de contraste ocular intravenosos, especialmente utilizados em exames oftalmológicos como a angiografia fluoresceínica ou a angiografia com verde de indocianina, possuem características específicas. Vamos fornecer informações gerais, mas é essencial ressaltar que os detalhes específicos podem variar dependendo do meio de contraste utilizado e das orientações do profissional de saúde. Abaixo estão informações comuns sobre esses meios de contraste:
Fluoresceína sódica: Este é um corante fluorescente amarelado amplamente utilizado em angiografia fluoresceínica. A fluoresceína é administrada por via intravenosa e destaca as estruturas vasculares do olho quando exposta à luz azul.
Verde de indocianina (ICG): Usado em angiografia de índigo-cianoína, o ICG é um corante que emite uma fluorescência infravermelha, sendo útil para visualizar estruturas mais profundas no olho.
A dosagem específica e a forma de administração variam conforme o tipo de exame e o meio de contraste utilizado. A administração é geralmente realizada por um profissional de saúde, muitas vezes durante o procedimento de angiografia requer geralmente consentimento assinado.
Fluoresceína: Após a administração intravenosa, a fluoresceína mistura-se com o sangue e destaca as estruturas vasculares do olho quando excitada por luz azul. Isso permite a visualização detalhada da circulação retiniana.
Verde de indocianina (ICG): Similarmente, o ICG une-se às proteínas do plasma sanguíneo, emite fluorescência infravermelha e permite a visualização de detalhes vasculares mais profundos.
Efeitos Secundários:
- Sensação de calor: Alguns pacientes podem experimentar uma sensação de calor durante a administração do contraste.
- Náuseas ou vómitos: Embora raro, algumas pessoas podem sentir desconforto gastrointestinal leve.
- Reações alérgicas: Em casos raros, podem ocorrer reações alérgicas, como urticária, prurido ou até mesmo choque anafilático. Estas são geralmente mais associadas à fluoresceína.
- Coloração transitória da pele e urina: Após a administração de fluoresceína, a pele e a urina podem assumir uma coloração amarela temporária.
- Alterações na pressão arterial e frequência cardíaca: Podem ocorrer flutuações temporárias na pressão arterial e na frequência cardíaca.
Portanto, é crucial que os profissionais de saúde estejam cientes de qualquer condição médica preexistente do paciente, incluindo alergias, para minimizar riscos. A administração desses meios de contraste é geralmente realizada em ambientes controlados, e os profissionais estão preparados para lidar com quaisquer reações adversas. Entretanto, pacientes devem relatar imediatamente qualquer efeito colateral ao profissional de saúde responsável.
A importância do uso correto e manutenção de horários de posologia
A importância do feedback ao profissional de saúde não pode ser subestimada. Desse modo, comunicar eventuais sintomas, melhorias ou preocupações relacionadas ao uso dos medicamentos possibilita ajustes no tratamento, garantindo uma abordagem personalizada e eficaz.
A eficácia dos fármacos oftálmicos está intrinsecamente ligada ao uso correto por parte do paciente, é importante recordar que os colírios e pomadas depois de abertos tem um prazo para serem usados, pois após a sua abertura o seu conteúdo começa a sofrer alterações e deterioração da sua composição.
Além disso, consultas regulares são necessárias para monitorizar a eficácia do medicamento e realizar ajustes conforme necessário. É fundamental seguir as orientações do profissional de saúde em relação à posologia e aos horários de administração. A manutenção rigorosa dessas diretrizes não apenas otimiza os resultados do tratamento, mas também minimiza o risco de efeitos colaterais.






